Professor Fábio Cantizano
Prof. Esp. Fábio Cantizano – UNICONFIT – CREF: 16603-G/RJ

A musculação é uma das modalidades mais seguras do mundo para praticar, independente da faixa etária ou nível de condicionamento físico. Ainda assim, é crucial prestarmos atenção no ambiente onde ela é praticada, pois une pessoas com personalidades, objetivos e percepções de “bom senso” completamente diferentes ao mesmo tempo, no mesmo horário. Já reparou nisso?

Da mesma forma que podemos controlar totalmente as variáveis durante a execução de um exercício, não podemos dizer o mesmo quanto aos fatores relacionados ao ambiente da sala de musculação.

Ações educativas de forma insistente são necessárias no dia a dia de uma academia para que todos possam melhorar a saúde, qualidade de vida e desempenho físico de forma segura.

Os envolvidos no processo são: Donos de academias, coordenadores, profissionais atuantes e os clientes

Quem é você na sala de musculação?

Se você é praticante de musculação, independente do seu nível de treinamento, entenda que suas ações na sala de musculação previnem acidentes e desconfortos, sejam eles envolvendo você ou demais praticantes.

O objetivo aqui não é julgar ou apontar culpados, já que inúmeros fatores contribuem para a ocorrência de acidentes. Você, enquanto praticante de musculação em ambiente coletivo, precisa fazer sua parte, além de cobrar da academia ações constantes e medidas de segurança.

Separamos aqui 10 situações comuns que parecem “bobas”, mas que geram aborrecimentos imensuráveis entre clientes, profissionais e gestores de academias.

1 – Use presilhas em barras longas

Mulher executando exercício supino reto na academia.
Presilha no supino protege executante e também colegas que estão por perto.

Assunto polêmico, até explorarmos todos os pontos de vista.

Ao realizar exercícios com barras longas, como supino, agachamento, entre outros, utilize presilhas de segurança.

A ideia de deixar a carga solta, dando a opção de inclinar a barra e deslizar anilhas para o lado em caso de falha muscular, pode ocasionar acidentes e machucar gravemente você e quem passa por perto. Não há explicação para não usar as presilhas em uma sala de musculação tradicional.

Há casos, inclusive, que as anilhas deslizam ao longo da barra no exercício por conta de desvios posturais do executante, colocando em risco a própria segurança do praticante.

Caso esteja utilizando cargas altas, execute com a supervisão de um profissional da sala ou tenha um parceiro de treino para oferecer a segurança necessária.

Se não for possível ter alguém por perto, reduza a carga. Em hipótese alguma o desenvolvimento físico de alguém pode colocar em risco a vida ou a segurança dos demais.

Já vi situações onde a barra “colou” no peito e o praticante deslizou as anilhas, sendo que uma delas atingiu o pé de outro cliente. Seria diferente se fosse em um CT ou academia com foco em bodybuilders e powerlifters. Em academias comuns nem todos têm a noção de espaço e bom senso de permanecer afastado da barra enquanto ela está em movimento.

Para as academias

  • Insira a obrigatoriedade de utilização de presilhas nas normas da academia;
  • Treine seus profissionais para observação constante em sala de exercícios que devem ser realizados com equipamentos de segurança. Presilha é equipamento de segurança para todos, não só para quem está executando;
  • Insira placas de orientação próximas aos locais onde os exercícios com barras são realizados;
  • Certifique-se de que os profissionais estão treinando com presilhas em seus horários de treino.

2 – Entenda primeiro o funcionamento do aparelho

Antes de iniciar a execução do exercício, peça para que um professor o execute, narrando desde o início do movimento até o final.

Não deixe, jamais, de perguntar os riscos de acidentes de cada equipamento e como fazer para evitar. Esta é uma das formas, inclusive, de verificar o nível de preparo do profissional que está com sua saúde nas mãos.

Por mais que você tenha experiência em musculação, alguns equipamentos podem apresentar diferenças na biomecânica e nos elementos de segurança, mesmo que tenham a mesma função. Isso ocorre bastante ao compararmos fabricantes.

Peça orientação ao profissional responsável pela sala, sempre.

Vai parecer chato, porém, jamais condene uma academia que seja “excessiva” no quesito segurança.

Para as academias

1 – Insira um módulo sobre gestão da segurança e riscos dentro de sala no programa de estágio. Antes de qualquer método de treinamento, conceito de biomecânica ou de periodização, ensine exaustivamente estagiários e professores recém contratados sobre segurança e riscos na sala de musculação;

2 – Adote como etapa ao ensinar um exercício ao cliente 1 dica de segurança para o exercício em questão e 1 dica de cuidados no local e proximidades de onde ele está se exercitando. Como exemplo, utilizar o limitador mecânico do Smith de acordo com a estatura e amplitude de movimento do executante ao agachar no aparelho.

3 – Não arraste equipamentos para dar estímulo diferente ao músculo

Banco Scott Livre e Sissy Squat são dois equipamentos campeões de participações em transgressões dentro da sala de musculação.

São frequentemente carregados pela sala, seja perto do cross over para mudar vetor de força em um exercício de bíceps (Scott) ou próximo de outro exercício de perna para um Bi-set, por exemplo (cadeira extensora com Sissy Squat).

Eles ocupam um bom espaço, mas são relativamente fáceis de serem carregados. Aí que mora o perigo, pois geralmente são colocados em algum corredor ou local com grande fluxo de pessoas, já que os aparelhos que eles se associam são vistos como principais.

Mesmo que o fluxo local seja pequeno, o risco de acidentes é grande quando a logística da sala é alterada. Fora que uma transgressão gera mau exemplo e dá direito aos demais de levarem equipamentos grandes e pesados para outro lado da sala. É um verdadeiro efeito cascata.

A sala de musculação é um local sério que merece a atenção devida. Antes de pensar em variações de movimentos, vetores de força ou métodos, pergunte ao professor que outro estímulo poderia ser experimentado. Tenha a certeza de que as opções ficam na casa das centenas.

Para as academias

  • Caso sua academia não tenha espaço para utilização indiscriminada desses equipamentos e semelhantes, tenha como norma não transportá-los para outro local, normas estas documentadas e expostas na sala (próximo do local onde o equipamento fica);
  • Treine seus profissionais para terem “cartas na manga” ao abordarem clientes que têm costume de realizar ações como esta em outras academias. Outras combinações de exercícios e métodos podem ser explorados como alternativa.

4 – Respeite o profissional responsável pela sala

Por mais que algumas pessoas não aproveitem a orientação do profissional, seja copiando o treino de uma celebridade ou executando o treino do consultor on-line, há um profissional na sala com responsabilidade técnica sobre todos que ali estão.

Você pode utilizar a estrutura da sala para realizar seu treino mesmo sem a orientação do profissional da casa, desde que acate as intervenções profissionais de caráter preventivo ou que estejam relacionadas às regras da academia, impreterivelmente.

Se todas as academias começarem a agir em conjunto, o cliente “rebelde” terá que acatar. Do contrário, terá que montar um espaço de treino em sua própria casa.

Professor não é carregador de pesos, não é babá e nem inspetor de escola, é um agente de transformação com conhecimento especializado para ajudar você a se desenvolver de forma segura dentro da sala de musculação.

Para as academias

  • Respeitar a intervenção de caráter preventivo deve estar dentro das normas, pois é comum alguns clientes usarem o argumento de que não foram avisados, mesmo que a abordagem do profissional seja sobre segurança;
  • Treine seus profissionais para uma intervenção segura e respeitosa, com argumentos irrefutáveis a serem utilizados em casos de insistência;
  • Dê carta branca ao profissional e ampare ele em caso de desentendimentos com clientes, afinal, é ele que está ali diariamente. se o cliente tiver que se indispor com alguém, que seja com alguém da gestão que ele não veja com frequência.

5 – Não deixe equipamentos espalhados e guarde os pesos

Estante de halteres para academias
Equipamentos espalhados tornam o ambiente perigoso.

Halteres, caneleiras, barras e anilhas são equipamentos de fácil transporte, logo, mais suscetíveis de serem esquecidos pela sala, o que pode provocar acidentes graves.

lembre-se, uma sala de musculação é cercada de equipamentos metálicos, com extremidades nada amigáveis quando há tropeços ou traumas diretos.

Se você monta o aparelho, treina e não guarda os pesos achando que é tarefa do professor, é hora de rever conceitos por alguns motivos:

1 – O professor é um agente intelectual que pode usar sua força física para auxílio em situações que exigem apoio mecânico com conhecimento técnico, não para guardar pesos que foram utilizados pelos clientes;

2 – O tempo que o professor perde ao guardar pesos e acessórios, poderia estar auxiliando o desenvolvimento de outra pessoa ou prevenindo acidentes, inclusive, com aqueles que não respeitam as regras;

3 – Guardar pesos não tem a ver apenas com educação, mas com o fato de outras pessoas precisarem utilizar o equipamento após você. Já vi muitos acidentes acontecerem com mulheres e pessoas mais velhas tentando tirar pesos enormes dos equipamentos, pois eram tímidas e não gostavam de pedir ajuda. Lembre-se, é direito de todos encontrar um equipamento pronto para uso.

Sugestões que deveriam ser regras:

1 – Ao guardar halteres, lembre-se de levar um de cada vez. Não há necessidade de levar 2 halteres de 20kg de uma vez. Leve um e depois o outro. É comum ter pesos no chão próximos ao suporte de halteres, favorecendo tropeços.

Quando você está com as duas mãos ocupadas, dificilmente consegue se proteger de uma possível queda ou apoiar-se em uma parede em situações de exaustão.

2 – Ao retirar anilhas do supino, hack de agachamento modulado, agachamento livre, Smith ou leg press, tire uma de cada vez também, além de alternar os lados para não desequilibrar o equipamento. Tirar primeiro todo um lado para depois tirar o outro pode causar o tombamento do mesmo (sim, já vi acontecer e não foi agradável).

3 – Evite também retirar 2 anilhas ao mesmo tempo, pois já vi anilha escorregando e caindo no pé da pessoa. Lembre-se, músculos cansados falham em tarefas que julgamos simples.

Para as academias

  • Serei repetitivo, ok? A orientação tem que estar nas normas! Placas distribuídas pela sala são fundamentais com dizeres do tipo: “Evite acidentes, guarde os pesos no local certo após a utilização” | “Guarde os pesos e acessórios para que outros também possam encontrá-los no local certo);
  • Insira na rádio da academia, com inserções a cada 20 ou 30 minutos, recomendações para guardar pesos e acessórios após a utilização, citando os riscos da não observação desse detalhe;
  • Em caso de academia cheia, um profissional pode a cada 20 ou 30 minutos falar diretamente em um microfone sobre a importância de guardar pesos e acessórios pelo mesmo motivo. Acredite, apenas os “mal educados” se sentirão desconfortáveis. é nessa hora que você decide que tipo de cliente quer ter em sua academia.

6 – Prenda seu cabelo ao treinar musculação

Mulher na academia descansando entre as séries, com as mãos nos joelhos.
Esqueça a aparência nesse momento. A segurança fala mais alto.

Treinar musculação com cabelo solto é um risco que não vale a pena correr. A academia pode, se achar pertinente, inserir a ação nas normas, embora não haja costume de ir tão longe, pois muitas professoras e personal trainers também trabalham de cabelo solto. O perigo não é apenas na prática do exercício, mas no trânsito pela sala.

Já vi uma personal trainer ficar com o cabelo preso no cabo de aço do Cross Over ao regular a carga para uma cliente, levando-a ao chão por conta disso. Sorte que não se machucou, mas o susto foi grande.

Na internet é fácil encontrarmos acidentes graves em agachamentos, quando o cabelo agarra na barra com carga. Onde há máquinas metálicas com engrenagens não é aconselhável passar com cabelo solto.

Para as academias

Você decide se a ação deve se tornar uma norma ou não, embora eu aconselhe educar constantemente as pessoas com cabelo grande a prenderem durante o treino.

7 – Esteira ergométrica: Jamais pule e retorne com ela ligada. Jamais, nunca!

Muita gente tem hábito de realizar treinos intervalados com recuperação entre estímulos fora da manta da esteira. É extremamente perigoso retornar ao movimento com a esteira ligada. O risco de queda é alto e as consequências são graves.

Já vi muita gente se machucar gravemente em treinos desse tipo, argumentando fatalidade. Fatalidades ocorrem em situações onde há controle. Nas situações onde o básico da segurança não é observado, as consequências são inevitáveis. Fraturas, torções e queimaduras por atrito na manta são apenas alguns dos possíveis resultados.

Se deseja treinar com métodos intervalados de alta intensidade com recuperações que exijam a interrupção do movimento, faça em local que ofereça uma pista ou utilize outro ergômetro.

Para as academias

  • Se deseja que sua academia ou sala de musculação seja conhecida e propagada como um local seguro, proíba treinos intervalados que envolvam sair e retornar com a esteira ligada, independente da velocidade. A exaustão física compromete alguns julgamentos e controle de capacidades físicas.
  • Tenha uma área de escape atrás da esteira ergométrica para não agravar ainda mais um possível acidente.

8 – Evite apoiar acessórios nos equipamentos utilizados por outros

Quando você guarda ou apoia um acessório como garrafinha ou celular em um equipamento, estes podem cair no chão por conta de vibração ao longo da execução do exercício. Ao cair pode prejudicar a concentração da outra pessoa que está usando o equipamento.

Já testemunhei uma situação onde a cliente deixou um Iphone apoiado no braço da barra paralela de um Graviton. Quando o outro cliente foi executar o exercício (ele já estava lá e não reparou a ação), esbarrou sem querer no telefone que foi ao chão e trincou a tela. Foi um momento extremamente desagradável, pois a cliente começou a “cobrar” o rapaz por conta do ocorrido.

O acidente aqui não comprometeu a segurança física de praticantes, mas gerou desconforto em toda a sala, além de prejuízo financeiro.

Para as academias

Tenha locais para apoio de acessórios em equipamentos e oriente clientes a apoiarem seus pertences apenas no equipamento que estiverem utilizando, nunca em equipamento utilizado por outras pessoas.

9 – Reveze com bom senso

Mulher executando exercício agachamento com barra na academia.
Bom sendo no revezamento traz bons resultados

Revezar equipamentos em academias é comum, embora haja muitos vídeos na internet mostrando pessoas discutindo por não quererem revezar. A sala de musculação não é ambiente onde o cliente tem direito a uso exclusivo do equipamento enquanto treina.

A modalidade é relativamente barata e precisa de muitos clientes em sala para justificar o investimento em equipamentos. Caso a pessoa não queira revezar, a solução é montar um espaço de treino em casa ou treinar em um estúdio com hora marcada, embora não haja possibilidade de fazer o que quer e nem pagará barato para isso.

Adapte-se e seja feliz em uma boa sala de musculação.

Reveze, mas com bom senso! Sugestões:

1 – Não reveze equipamentos de anilhas como, supino, hack de agachamento ou leg press se sua carga não for compatível com a do(a) colega. Uma diferença máxima de 20% na carga total é aceitável para não gerar mais desconforto;

2 – Um de cada lado! Sempre que um terminar uma série, os dois retiram e colocam as cargas, independente de quem vai executar. O mais forte não é burro de carga para ficar tirando a carga para o mais “mais fraco” e colocando quando for a hora dele executar.

Nessa hora não tem sexo, não tem gênero (goste disso ou não). Se está na sala e está revezando, levanta e coloca a mão na massa. Manipule os pesos. Aqui não há espaço para cavalheirismo (me perdoe), pois pode colocar o colega em exaustão, aumentando risco de acidentes.

10 – Longe das partes móveis

Muitas academias disponibilizam seus equipamentos próximos uns dos outros. Mesmo com recomendações da ANVISA para distância mínima de 80 cm entre eles, nem sempre é possível arrumar os equipamentos desta forma.

É comum vermos supino ao lado de outro supino. No caso de equipamentos de anilhas, sejam eles para exercícios livres ou articulados, há necessidade de respeitar o espaço de curso do equipamento.

Caso precise passar por um local em que esteja sendo executado um exercício por outro praticante, mas que haja a possibilidade do seu movimento desconcentrá-lo ou até mesmo esbarrar sem querer no equipamento, espere-o terminar a série.

Evite também, a qualquer custo, passar em frente ao espelho, caso um colega esteja realizando algum exercício com o auxílio do reflexo.

Para as academias

Reforce com os profissionais sempre que necessário para educar clientes sobre esses cuidados.

Considerações finais

A musculação é uma modalidade extremamente democrática, a melhor relação custo-benefício do mercado fitness quando o assunto é saúde, qualidade de vida, bem-estar ou até mesmo alto rendimento.

Conviver em grupo não é fácil, embora regras de segurança tenham como objetivo preservar a integridade física e mental dos envolvidos.

Seja parceiro de treino, seja um exemplo em sala. Somente assim teremos uma sala segura para todos. Não esqueça de cobrar dos colegas uma boa conduta, assim como posicionamento da academia em situações reprováveis que você venha a testemunhar.

Bons treinos!