Os EUA representam o maior mercado fitness do mundo e isso não é novidade para você. Nós estamos em segundo lugar em número de academias, embora nosso faturamento em geral não esteja na mesma colocação e nem o número de clientes.
Muitos brasileiros praticam exercícios físicos com orientação profissional fora das academias, outros por conta própria (também fora das academias). Isso significa um grande problema para os CNPJs que investem milhões por ano para atrair e manter clientes.
Se você é dono de academia com sala de musculação, principalmente sem ser uma academia de rede, está no mesmo mar, mas não no mesmo barco, concorda?
O hábito de copiar
Nós, brasileiros, temos hábito de copiar boa parte do que vem de fora, acreditando na qualidade superior e capacidade de inovação de países desenvolvidos.
O fitness, particularmente, permite que algo seja popularizado na prática mesmo sem comprovação científica, ao contrário da indústria farmacêutica, que precisa testar por anos uma droga para depois disponibilizar ao consumidor final.
Diversas modalidades e equipamentos passaram a receber maior atenção dos laboratórios de ciências do exercício após a popularização. Um exemplo real é o trabalho árduo de pesquisador Doutor Belmiro de Salles (brasileiro) para comprovar cientificamente a eficácia de métodos de treinamento na musculação que foram criados décadas atrás por fisiculturistas.
Por ser o maior mercado e país de primeiro mundo, os EUA lançam inovações com mais frequência que os demais países, mas isso não quer dizer que sejam superiores cientificamente, muito menos que a prestação de serviços ao consumidor seja melhor também.
Ouso dizer que o melhor fitness do mundo é o Brasileiro, melhor do que nos EUA e Europa. Para alguns professores e acadêmicos brasileiros que atuam lá fora, muitas academias americanas e europeias são verdadeiros estúdios de “memes”, com muita gente treinando de forma errada, sem terem a menor noção do que estão fazendo.
O Brasil que teria que ser copiado, sinceramente!
Por que copiar o modelo americano pode falir sua academia?
Reuni uma pequena lista de fatores que influenciam a gestão de um negócio fitness, mas que apresentam diferenças gritantes quando comparamos os dois primeiros colocados no mercado fitness mundial.
1 – Formação profissional
A formação profissional do brasileiro é incomparavelmente superior ao que é oferecido nos EUA.
Lá, quem deseja atender clientes como personal trainer, precisa fazer um curso que não dura 1/4 da carga horária de uma graduação em educação física em nosso país.
Caso o candidato opte pela certificação on-line, o tempo é menor ainda. De acordo com colegas que atuam em academias dos EUA, é impressionante como uma conversa sobre temas básicos da fisiologia, biomecânica e métodos de treinamento não rende muito, justamente pela falta de conhecimento aprofundado. Acredite, lá fora os profissionais brasileiros são copiados.
2 – Legislação
Não é novidade que as academias de musculação dos EUA não exigem a presença de profissionais resposáveis nas salas de musculação. Isso reduz consideravelmente o custo operacional da empresa e, teoricamente, valoriza o tempo do profissional que atua como personal trainer.
Se você deseja ter orientação em uma sala de musculação americana, precisa contratar um personal trainer com formação bem a desejar, se compararmos com o professor da sua academia no Brasil. A legislação vigente para o consumidor também é diferente.
3 – Regulação
No Brasil, a profissão “Educação Física” é regulamentada, ou seja, há um órgão regulador que fiscaliza a atuação profissional e também o mínimo de segurança na operação da academia. Caso lá haja algo semelhante, dificilmente terá o mesmo rigor, mesmo muitos acreditando na falta de rigor do CREF.
4 – Comportamento do consumidor
Por mais que os EUA representem o maior mercado fitness, lá se concentra um dos maiores percentuais de pessoas obesas do mundo, ao compararmos com outros países (mesmo com população maior). Uma série de fatores pode justificar o cenário, embora não seja o foco do presente artigo.
Nos EUA temos grandes adeptos ao exercício físico e grandes adeptos ao sedentarismo também. Quase não há meio termo. Em outros países (como o Brasil) há muita gente se exercitando sem cuidar tão bem da alimentação e outros fatores que também influenciam a boa saúde.
Não é difícil perceber que a motivação para se matricular em uma academia pode ser diferente em países diferentes, principalmente quando outras formas de consumo como lazer, cultura e entretenimento também são diferentes.
5 – Acesso aos equipamentos
Se você deseja montar uma sala de musculação no Brasil com bons equipamentos, terá que investir uma boa verba, principalmente quando os consumidores já esperam determinadas marcas que são garantia de qualidade (importados).
Se você não coloca na sala de musculação equipamentos de boa qualidade, dificilmente terá clientes suficientes para custear a operação e obter lucro. O grande problema é que equipamentos importados são bem mais caros para os empreendedores brasileiros do que para os americanos.
Boas marcas são fabricadas nos EUA e Europa. A tributação também ajuda esses países, ou seja, eles investem bem menos nos equipamentos do que uma academia brasileira.
6 – CLT
Nos EUA as leis trabalhistas são bem diferentes e não punem o empresário da mesma forma que no Brasil. Esse fator pode fazer uma diferença muito maior na operação do que imaginamos.
Além da legislação ser diferente, não há a exigência de profissionais em sala de musculação. Aqui no Brasil você precisa ter um em cada em cada ambiente para obedecer a legislação.
Por conta disso, o gasto com folha de pagamento aqui no Brasil pode ser considerado uma verdadeira covardia com o empreendedor, se compararmos com os EUA.
Pense comigo:
Equipamentos muito mais caros para nós, leis trabalhistas muito mais vantajosas para o empreendedor americano, folha de pagamento incomparavelmente maior no Brasil, quantidade menor de clientes treinando no Brasil, ou seja, não faz o menor sentido copiar o que eles fazem.
Copiar estratégias e tendências só faz sentido quando atuamos com as mesmas regras e condições.
Por isso que quando escuto alguém dizendo:
“mas nos EUA estão fazendo assim…”, eu digo:
“Traga o empreendedor americano para cá, peça para ele fazer aqui o que ele faz lá, mas pagando o mesmo preço que pagamos nos equipamentos aqui, com a CLT sendo obedecida e com a nossa carga tributária”. Com apenas esses 3 fatores ouso dizer mais: “Ele não duraria 1 ano em nossas terras”.
Se pararmos para pensar direitinho, o empreendedor brasileiro que mantém o negócio de pé é que deveria ser copiado, mas nem todos estão prontos para essa conversa, afinal, são os EUA, né?
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