Professor Fábio Cantizano
Prof. Esp. Fábio Cantizano – UNICONFIT – CREF: 16603-G/RJ

A pandemia foi realmente um divisor de águas em nosso mercado, com milhões de pessoas começando a praticar exercícios físicos ao ar livre, em lives pelo Instagram ou YouTube, em programas de exercícios gravados e em espaços comerciais como as academias, estúdios e boxes.

“Quem se exercita tem menor chance de agravar o quadro da Covid-19”. Essa foi a frase de campanha mais compartilhada por profissionais de educação física e negócios fitness por um bom tempo. Sua academia compartilhou?

O reconhecimento do Ministério da Saúde sobre nossa atuação impulsionou o mercado no geral. Mais pessoas praticam exercícios hoje em dia do que antes da pandemia, em quantidade e proporcionalidade.

O que precisamos entender é: As pessoas precisam de movimento e exercício, mas não quer dizer que precisam de uma academia. A prova disso é:

  • Aumento considerável nas vendas de equipamentos para treinos ao ar livre ou em casa;
  • Clientes cancelando suas matrículas em academias para treinar com personal on-line;
  • Pessoas pagando menos de 50 Reais em programas de exercícios via internet, mesmo não sendo personalizados;
  • Profissionais de educação física montando negócios on-line, atendendo centenas de pessoas por valores mais baixo do que das academias, entre outros.

Por mais que possamos listar centenas de razões para uma pessoa treinar em uma academia e não em casa, parque ou praia, os consumidores também têm uma série de razões para não frequentarem uma academia, treinando em qualquer outro local.

Motivos que levam algumas pessoas a abandonarem as academias para treinar em outros espaços:

  • Profissionais com predileção de clientes;
  • Local com muito barulho e músicas nem sempre agradáveis;
  • Ambiente confuso e desorganizado;
  • Filas em equipamentos e clientes mal-educados;
  • Ambiente sem regras e sem intervenção para cumprimento das mesmas;
  • Distância;
  • Horário fixo para atividades;
  • Equipamentos com manutenção demorada;
  • Alto custo, para alguns, entre outros motivos.

O que vem acontecendo hoje em dia nas academias com salas de musculação

Muitas academias não estão se promovendo como espaços para saúde e qualidade de vida, mas como espaços de aluguel de equipamentos e instalações. Se você tem uma academia e ela parece estar indo para esse caminho, não se ofenda, pois tem saída.

Quando não promovemos corretamente o negócio, ele se autopromove de acordo com o comportamento dos clientes e pela falta de intervenção em comportamentos nem sempre ideais. Exemplos:

  • Clientes que vão para a academia apenas para utilizar equipamentos por um preço baixo;
  • Clientes que não seguem orientações dos profissionais (corrobora com o anterior);
  • Clientes que se mostram organizados nas aulas coletivas, porém mal-educados na sala de musculação;
  • Monopolização dos equipamentos e discussões com base em “bom senso” e não em regras bem estabelecidas;
  • Treinos em grupinhos na musculação, prejudicando a logística, entre outros.

Reparem que em algumas academias há clientes se encaixam totalmente na lista acima, desrespeitando regras, ignorando a orientação profissional e cobrando atuação do professor quando há impasses do tipo

  • Revezamentos em aparelhos;
  • Tempo de espera na esteira;
  • Discussões sobre filmagens e uma série de situações que precisam de mediação.

Seu professor não é “inspetor de escola” para atuar apenas dessa forma, concorda?

O fato das grandes redes operarem dessa forma, sem valorizar tanto o ponto de vista técnico e apenas cumprindo o que determina a lei, faz com que uma boa parcela da sociedade saia das academias para prática de exercícios em outros locais.

Em cursos, eventos e discussões em grupos sempre martelo nessa tecla: Quando a maioria faz da mesma forma, quando não há explicações com base em fatos, dizemos que o que acontece é algo “cultural”.

Somado a todo esse cenário, temos:

  • Influenciadores digitais dando dicas de exercícios em redes sociais;
  • Médicos dando opiniões nem sempre embasadas, mas blindadas por jalecos;
  • Inúmeros conteúdos de adolescentes em redes sociais “brincando” de bater recordes em levantamentos de pesos em academias;
  • Inteligência Artificial que planeja treinos;
  • Afiliados de lojas on-line fazendo propaganda de “Você não precisa mais de academia com este equipamento em casa” (contendo até apostila de exercícios).

A educação da população

A população está sendo educada a encarar exercício físico como sacrifício e como algo voltado somente para estética, caindo em armadilhas em forma de atalhos para resultados rápidos.

Sempre observo ao visitar sites e redes sociais de academias do Brasil o que vem sendo publicado. São raras as empresas do ramo que realmente educam a sociedade sobre e necessidade de orientação profissional em local seguro, como as academias. Geralmente postam:

  • Dicas genéricas de atividades que queimam mais calorias;
  • Ofertas de planos;
  • Algum tipo de comemoração em data específica;
  • Riscos de algumas doenças, mas sem nada aprofundado, entre outras coisas que qualquer pessoa poderia publicar em um blog, como este aqui, inclusive.

Dói muito dizer isso, mas no mercado fitness somos extremamente reativos, o que prejudica muito nosso protagonismo. Reagimos quando atacados ou baseamos nosso discurso em falas de outros profissionais da saúde com fama intelectual mais consolidada.

Erros cometidos pelos negócios fitness em canais digitais

Os principais erros cometidos estão no processo educacional de clientes e prospects, sendo os canais digitais essenciais para luta contra a desinformação. Alguns erros:

  • Postar apenas ofertas de planos;
  • Postar dicas genéricas que são publicadas por qualquer outra empresa;
  • Não associar ponto de vista técnico com a personalidade da marca;
  • Contratar agências que entendem de mídia (tráfego pago), mas que não entendem de fitness;
  • Não saber aproveitar os profissionais para promoção do negócio;
  • Não entregar um plano de marketing de conteúdo a ser executado pela agência;
  • Deixar os canais digitais nas mãos da agência, sem fiscalizar a linguagem e a operação;
  • Foco em estética na prática, mas com discurso de saúde nos canais digitais;
  • Promessa mal feita nos canais digitais, com realidade bem diferente dentro da academia;
  • Ignorar o poder do conteúdo no Perfil Empresarial do Google.

É essencial que gestores e profissionais de marketing das academias tenham conhecimento sobre marketing de conteúdo fitness e tirem proveito da ferramenta, ou então estarão sujeitos aos demais que moldam as mentes dos consumidores.

Seu maior desafio não é educar o consumidor sobre praticar de exercícios, mas de praticar dentro da SUA ACADEMIA.

Lembre-se, o quanto antes perceber a necessidade de transformar sua empresa em “empresa de mídia”, melhor.