Você pode utilizar o nome regra ou norma, como preferir. Eu nem precisaria enfatizar a “rigidez”, pois uma norma ou regra tem a função de preservar o bom convívio entre as pessoas, além de tornar o ambiente seguro para a prática de qualquer modalidade.
Na verdade, o que realmente precisa ter certa rigidez é a atuação dos profissionais em fazer acontecer, anulando qualquer possibilidade de uma importante regra cair no esquecimento. Concorda? Para isto, a gestão precisa endossar a ação do profissional com base em regras estabelecidas de acordo com o seu modelo de negócio.
Apresento a você 3 motivos que justificam atuação profissional mais frequente e sem predileções na sala de musculação.
1 – O efeito tribal
Qualquer modalidade da sua academia pode ser a base de uma tribo. Jamais esqueça disso.
Elas são muito comuns em aulas de hidroginástica, cross training, crossfit, aerojump, enfim, modalidades em grupo que unem pessoas com características semelhantes e que buscam objetivos também semelhantes.
A musculação é uma das poucas modalidades que consegue unir mais de uma tribo no mesmo local e horário, tribos estas compostas por pessoas completamente diferentes.
Pode não parecer, mas cada tribo pode achar que tem mais direito que outras de acordo com parâmetros estabelecidos por elas.
Um cliente forte, “marombeiro”, pode achar um absurdo o professor prescrever o exercício Supino Reto Livre para um senhor de 60 anos em pleno horário de pico.
“Por que esse professor não colocou esse senhor no supino de placas? Aí, quem quer treinar pesado não pode, pois o senhorzinho está no aparelho pegando 5kg de cada lado”.
Clientes e profissionais precisam saber que os equipamentos são para todos, em qualquer horário, sejam marombeiros, iniciantes ou qualquer outra classificação. Não há predileção para utilização de equipamentos, a não ser que seu modelo de negócio seja bem específico e haja hierarquia entre frequentadores, como em algumas academias de artes marciais (não recomendo esse modelo).
A única recomendação que dou aos profissionais, neste caso, é que reforcem em sala o bom senso, ou seja, revezem equipamentos livres e de anilhas apenas clientes que treinam com carga aproximada, pessoas com mesmo nível de treinamento.
2 – A qualquer hora
A musculação não tem hora marcada. Cada cliente chega e treina na hora que deseja, diferente do Pilates, Natação ou qualquer modalidade que tem hora para começar e terminar.
Se você chega na sala de ginástica para participar de uma aula de Jump, por exemplo, dificilmente entrará com a sala bagunçada por conta da aula anterior, com equipamentos espalhados e colchonetes sujos. ATENÇÃO: falo aqui de academias organizadas e com o mínimo de preocupação com a experiência do cliente, ok?
Na musculação, a qualquer hora que você chega, corre o risco de visualizar um halter fora do lugar (no meio do caminho), caneleiras jogadas sujas em um canto, colchonetes dobrados e sujos em algum equipamento, uma anilha presa na torre de placas do Cross Over para aumentar a carga (além da capacidade do aparelho), enfim, cenas que você conhece e tem costume de se deparar na musculação.
Esse tipo de situação pode ser resolvida de uma hora para outra? NÃO! De forma alguma, entretanto, com orientação frequente ao “passar a série para o cliente” e ao realizar intervenções técnicas, finalizando com a orientação sobre organização, cria-se o hábito por parte dos clientes em deixar o ambiente organizado.
Dá trabalho? Muito! Mas é necessário, desde que deseje manter sua sala de musculação cheia de clientes fieis e disciplinados.
Trace uma meta:
Reduzir a bagunça e os riscos da sala em 30% ao longo das horas. Você perceberá uma diferença e tanto na percepção do cliente sobre a segurança da sala de musculação.
3 – Liberdade disfarçada
Repare que a musculação é a única modalidade que o cliente pratica, permitindo situações como:
- Cliente treina o que quer;
- O cliente paga a mensalidade / plano, mas traz o treino do consultor on-line dele que não faz ideia de como é a sala de musculação da sua academia;
- No intervalo entre séries há a possibilidade de “morcegar” no equipamento navegando pelas redes sociais;
- Fotos e gravações de vídeos, muitas vezes com tripé e tudo, para postagem em redes sociais, entre outras situações.
Gestor, consegue ver outra modalidade com tanta abertura para transgressão de regras e disputa de “bom senso” como na musculação?
Qualquer outra modalidade em que há supervisão de um profissional, dificilmente acontecerá situações como essas.
Tem cliente que acorda cedo para levantar pesos, entra na academia 6h da manhã, cumprimenta o professor, treina da forma que acha melhor e vai embora. Isso não acontece no Spinning e nem no Crossfit. Em outras modalidades o comportamento é outro.
A musculação é um ambiente visto como Self Service por muitos praticantes, um ambiente mais livre, com presença de profissional que prescreve para quem deseja orientação e para não permitir que se torne um caos.
O que não dá certo é querer gerenciar a musculação da mesma forma que se gerencia atividades coletivas.
Para muitos a musculação é um aluguel. O cliente paga mensalmente para usar equipamentos em um local com ar condicionado e certa limpeza, ignorando a presença do profissional.
Quem é o bom cliente?
É aquele que cobra dos demais e deixa o ambiente organizado, respeita normas e utiliza os equipamentos com cuidado, preservando-os.
Se sua academia tem um posicionamento de mercado mais voltado para o alto rendimento, além de ter um ambiente mais livre, sem problemas, é um modelo de negócio com características próprias e com potencial de retorno.
O que jamais poderá acontecer é desejar um ambiente organizado, com clientes cuidadosos, sem criar regras ou normas com uma equipe treinada e pronta para fazer acontecer.
Que atitude é tomada na sala de musculação da sua academia quando, ao terminar uma série, o cliente lança ao chão o halter de mais de 20kg, como feito regularmente em academias de fisiculturismo em outros países?
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