Professor Fábio Cantizano
Prof. Esp. Fábio Cantizano – UNICONFIT – CREF: 16603-G/RJ

Antes de mais nada, vamos compreender o básico. Marketing é uma área estratégica da administração que tem como principal objetivo atrair e manter clientes.

No âmbito do esporte, embora a dinâmica seja diferente do marketing tradicional, os princípios são os mesmos, desde que os protagonistas compreendam as particularidades do esporte, das oportunidades que ele cria e, principalmente, o comportamento do consumidor, visto por muitos atletas apenas como “seguidores nas redes sociais”.

Lembre-se, seguidor é ser humano, logo, consumidor.

Vale refletir…

Há muito modismo na internet envolvendo marketing e esporte que levam atletas a agirem com se seguissem uma fórmula infalível, mas que na realidade gera frustração naqueles que decidem copiar os outros.

O seguidor, torcedor, é o consumidor do esporte. Além de seguir seu atleta favorito e outros que realmente influenciam a evolução do fisiculturismo, compram produtos que tenham ligação com a modalidade e também aqueles que são utilizados pelos atletas, mesmo que não haja ligação direta com o esporte, como exemplificado no parágrafo adiante.

A propaganda de forma inconsciente

A maioria das pessoas já se depararam com propagandas de panelas que não grudam durante o preparo dos alimentos. Até aí, tudo bem, mas quando 4 em cada 5 atletas utilizam um utensílio da mesma marca ao preparar alimentos durante a temporada, os consumidores passam a olhar aquela marca de panela com outros olhos.

Atleta Eduardo Corrêa preparando alimentos. Se o mesmo utilizar sempre a mesma marca de utensílios de cozinha, certamente influenciará uma legião de fãs a adquirirem os mesmos, sem propaganda direta.

Percebeu a dimensão do marketing e como o esporte pode servir de mídia para aumentar as vendas?

Você conhecerá agora 3 aspectos que envolvem atletas e o mercado, sendo que a real compreensão deles pode impactar sua carreira de forma positiva ou negativa, caso não faça uso correto da ferramenta essencial chamada Marketing.

1 – O desenvolvimento da celebridade

Celebridades são personalidades conhecidas por muitos, sejam fãs ou não. São famosos que agradam segmentos de mercado específicos ou até mesmo de forma global. Geram confiança naqueles que os seguem e que sonham em ter uma vida semelhante.

Até então, descrevi acima pessoas famosas, independente daquilo que fazem.

No fisiculturismo temos campeões e atletas que nem ganham títulos importantes, mas que se tornaram famosos por conta do esporte e carregam uma legião de fãs por onde passam.

Bruno Moraes: Exelente exemplo positivo de influenciador digital que passou pelos palcos do fisiculturismo. Competiu muito menos que muitos atletas e tem mais destaque na mídia por conta da sua personalidade e habilidades ímpares.

Pouco tempo atrás algumas celebridades fitness cobravam caro para publicar algum conteúdo com utensílios, roupas ou até mesmo fazendo refeições em algum local. Por se tornar uma prática comum no meio, os fãs começaram a perceber que nem tudo que a celebridade estava usando era, de fato, de uso pessoal dela, ou seja, divulgava-se tudo que pudesse render algum retorno.

Hoje em dia, por ser uma prática comum e com resultados muitas vezes superiores às propagandas propriamente ditas, esta dinâmica mudou. Raramente uma celebridade posta algo sobre algum produto que ela não confia ou que não usaria na vida real, justamente por ter uma relação de confiança com seus seguidores.

Alguns atletas criticam essa mudança de rumo na carreira de outros, como se a celebridade tivesse apenas se aproveitado do esporte para “aparecer”, abandonando-o quando consegue maior retorno financeiro em outra rotina de aparições.

Isso não é crime, mas alguns encaram como se fosse, achando um absurdo. Grandes nomes têm bons retornos através do palco, mas oferecem uma experiência fantástica para os seguidores além da participação em campeonatos, como Fernando Sardinha, Bruno Moraes e Vivi Winkler, por exemplo.

Os patrocinadores de hoje sabem que o retorno do patrocínio no esporte é positivo, mas esta é apenas uma das estratégias de marketing das marcas para aumentar vendas ou o prestígio da empresa no mercado.

Um bom exemplo disso é o investimento feito por uma marca no Arnold Classic, sendo que a celebridade Jojo Todynho não era do universo fitness, mas naquele momento estava inserida em um projeto de emagrecimento bem estruturado.

Jojo Todynho em estande de seu patrocinador no Arnold Classic, tendo seu projeto de mudança de estilo de vida aprovado pelo maior incentivador do fisiculturismo no mundo, Arnold. Imagem do portal UOL.

A ação acima não agradou atletas e nem aos fãs de carteirinha do esporte, mas atingiu fãs da celebridade que não tinham nada a ver com o universo fitness e que se inspiraram nos esforços da “patrocinada” para realização de mudança no estilo de vida. Portanto, esta celebridade pode ter incentivado uma quantidade muito maior de pessoas na mudança do estilo de vida do que um atleta com diversos títulos, mas sem influência fora dos palcos. Sei que dói ler isso, mas é a realidade.

Empresas buscam retorno e não brincam em serviço. Este é um mundo que não há caridade e que o atleta realmente precisa mostrar através das suas habilidades que pode gerar retorno positivo para as marcas.

2 – Posicionamentos contra absurdos exigem cuidado

Já viu algumas celebridades fitness postando seus treinos, executando exercícios nada convencionais ou adaptando aparelhos com movimentos absurdos? Pois é.

Muitos criticam a estratégia que tem como objetivo ganhar likes ou até mesmo gerar burburinho, promovendo um engajamento enorme no post. Acredite, algumas empresas não se incomodam com esse tipo de aparição. O grande problema é quando o atleta comenta ou compartilha o conteúdo reprimindo a prática de forma ofensiva.

Não há problema algum em reprimir este tipo de situação, mas os termos usados e a indignação demonstrada traz uma “carga negativa” para o atleta que está criticando o post, pois nem todos são educados. Já vi comentários como :

“Que absurdo essa marca patrocinar essa palhaçada” ou “por isso que essa marca é uma porcaria”. Um deles disparou: “tomara que caia e quebre a cara”.

O que muitos não percebem é que não é só a celebridade e o patrocinador dela que vão ler os comentários, mas diversos potenciais fãs e olheiros das outras marcas também.

A questão é que uma marca que estuda patrocinar determinado atleta, quando se depara com um comentário mal educado ou com palavrões, corta-o da lista na hora, justamente por este investir precioso tempo em denegrir a imagem de alguém, mesmo que este alguém mereça. Não conheço uma marca que esteja disposta a patrocinar atletas que se envolvem em intrigas.

Lembre-se, é extremamente importante se posicionar contra práticas lesivas ou ineficazes, mas há formas de fazer isso com categoria, sendo admirado até mesmo pela celebridade que fez o post “absurdo”.

Você pode até mesmo achar um absurdo o que direi, mas já vi atletas de renome, ao menos em termos de títulos, mas não de retorno em patocínios, postando conteúdos fora da realidade de atleta em troca de engajamento de post. Lembre-se, fórmulas só dão certo para vendedores de cursos de marketing digital, pois o termo acaba chamando a atenção.

3 – Os relacionamentos que devem ser alimentados

Os atletas que têm os maiores retornos em patrocínio e engajamento nas redes sociais são verdadeiros mestres do relacionamento, seja com fãs, patrocinadores, potenciais patrocinadores e profissionais envolvidos com o fisiculturismo. Nutrir relacionamentos abre portas. Você já sabe disso, mas, possivelmente, pode estar errando em alguma questão.

Seus fãs, mais conhecidos como seguidores no ambiente digital, são os mais importantes seres humanos quando falamos de marketing e patrocínio. Interagir com eles no ambiente digital e também ao vivo em eventos é essencial para manter sua chama acesa, agregando ainda mais valor para sua marca pessoal.

Não adianta ter milhões de seguidores no instagram se você não consegue dar atenção para ao menos 50% dos que interagem com você, seja através de algum comentário ou repost. Sabemos que Cristiano Ronaldo e Messi não respondem nem 1% das interações, mas eles são celebridades mundiais e fazem parte de um esporte que não precisa de muito investimento para ter retorno, justamente pela popuparidade da modalidade. A dinâmica do fisiculturismo é outra, pois envolve influência no estilo de vida das pessoas.

Rede social é relacionamento. Quando você avança em número de seguidores, aumenta-se o tempo dedicado em responder comentários ou até mesmo agradecer repostagens. Quando um fã recebe atenção especial do seu ídolo que tem mais de 200 mil seguidores, vira um verdadeiro embaixador da celebridade ou atleta.

Estude a possibilidade de pagar alguém para tomar conta dessa tarefa, alguém com conhecimento de marketing geral, esportivo e de ferramentas digitais. Este profissional deverá estudar bem sua personalidade para agir e responder como você, consultando-o em situações específicas. Dá trabalho? Muito, mas o retorno certamente será potencializado.

Se você tem mais de 100 mil seguidores e não tem dinheiro para pagar um profissional ou agência para assumir parte dessa tarefa, infelizmente você não está planejando bem seu marketing a ponto de monetizar sua popularidade.

O fisiculturismo não é popular como o futebol, logo, jamais levará para os perfis dos atletas a mesma quantidade de seguidores que os futebolistas têm. Entretanto, mesmo com menos seguidores no esporte, estes fazem parte de um nicho, são focados e extremamente envolvidos com a causa.

Aí você me pergunta: “Fábio, não tenho 100 mil seguidores”.
Respondo: “Então planeje seu tempo para interagir com seus fãs”.

Seja educado e faça com que sua marca seja lembrada pelos potenciais patrocinadores, mesmo que você seja patrocinado por outra marca. Comentar posts de atletas patrocinados por outra marca, tirar fotos em campeonatos com outros atletas e com profissionais que atuam no esporte, além dos fãs, certamente colocará você em outro patamar.

Um detalhe importante que a maioria dos atletas deixa de lado é a importância de ser bem visto pelos frequentadores da academia que você treina. Fisiculturistas são enormes, incomuns e quando estão focados no treino com a “cara amarrada”, assustam aqueles que não fazem ideia de como o esporte funciona e também aqueles que já têm algum tipo de preconceito (muito comum).

Na prática

Ofereça ajuda no supino, reveze e incentive cada um que passar por você na academia.

Se deu falta de algum aluno na academia, pergunte se está tudo bem ou o motivo dele ter sumido quando ele aparecer. Seja humano e ofereça sua ajuda para melhorar a disciplina dos que treinam em seu horário.

Seja aquela pessoa que inspira e que leva boa energia para os que estão ao redor.

Acredite, este artigo poderia ser um livro. Sendo assim, vou parar por aqui para que você possa refletir cada palavra que escrevi, colocando cada tópico em prática. Conversaremos mais sobre isso em outras publicações, ok?

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